Doença surgiu pouco mais de nove anos após Janaína Oliveira, 39, colocar prótese mamária
Linfoma anaplásico associado a implante mamário. Esse tipo raro de câncer que foi notado pela catarinense Janaína de Oliveira, de 39 anos, em seu corpo enquanto tomava banho no dia 1° de novembro de 2021. Ao passar o sabonete pela axila direita, sentiu um caroço. No começo, achou que era coisa de sua cabeça. “Me arrumei, dei um beijo na minha filha e fui trabalhar.”
No entanto, quando chegou ao trabalho, pediu para a chefe apalpar o caroço, ao que a colega disse: “vamos marcar um médico”. Ginecologista, ultrassonografia, mastologista, setor de oncologia do Hospital Santo Antônio de Blumenau, novamente muitos exames e biópsia: ela estava com Linfoma de Hodgkin, um tipo de câncer que tem origem no sistema linfático do paciente. No entanto, em meio a diversas sessões de quimioterapia já realizadas, com o câncer voltando, ela descobriu se tratar de algo mais raro, um tumor associado ao silicone.
Segundo o oncologista Daniel Tabak, membro do Comitê de Linfoma Não-Hodgkin da ABHH (Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular), o diagnóstico desse tipo de câncer pode aparecer tardiamente, muitas vezes apenas no momento da cirurgia de revisão do implante realizada devido a um seroma persistente, que consiste no acúmulo de líquido próximo à cicatriz cirúrgica, uma resposta do sistema imunológico à inflamação crônica gerada pela prótese.
O processo desencadeia a degeneração dos linfócitos T (responsáveis pela imunidade) e displasia (o desenvolvimento celular fora do normal associado ao surgimento de câncer).
A maioria dos casos de câncer, segundo o especialista, surge entre sete e dez anos após a colocação do implante. No caso de Janaína, ocorreu nove anos e oito meses após a inserção da prótese em seus seios.
Todo implante mamário está sujeito a riscos?
Todos os casos associados à doença, segundo o especialista, são de próteses que foram retiradas de circulação no mercado. A principal delas é Allergan BIOCELL, proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2019, após a Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora americana, relatar ter recebido 116 notificações desse tipo raro de linfoma.
Até 1 de dezembro de 2023, foram relatados 1355 casos da doença nos Estados Unidos, segundo ele. “Antigamente utilizava-se uma prótese texturizada e rugosa, já hoje utiliza-se a prótese lisa, que tem uma chance menor de promover a irritação de tecidos. Acredita-se que seja essa a causa do processo de desenvolvimento da doença”, explica.
Para todos os pacientes com o diagnóstico, é recomendado “a ressecção cirúrgica completa do implante, da cápsula e de qualquer massa associada”, explica o especialista. Foi o que aconteceu com a catarinense: a retirada do implante fez com que seu câncer não voltasse mais.