Oi mãe Monique. Consegui ler sua cartinha, não me pergunte como, no dia em que completaria 5 anos de vida, na qual a senhora contou que pretendia fazer uma festinha com tipos de doce que eu mais gostava. Fiquei contente, embora não possa saboreá-los mais, e resolvi fazer a minha carta, endereçada para a senhora, agora que se aproxima o Dia das Mães.
Reparei que a senhora está escrevendo bastante, com uma sucessão de cartas (aliás, bem escritas) nas quais fala quais fala muito sobre papai e do tio Jairinho, e bem pouco sobre mim. Não entendi direito a motivação de tantas cartas, porque até onde sei o objetivo delas não era chegar aos correios e sim, de maneira indireta, tentar contar uma nova história, que fosse aceitável para a polícia.
De qualquer moldo, este Dia das Mães transformou-se no meu dia de reflexão. Se estivesse vivo, gostaria de abraçá-la, dar-lhe um montão de beijos e desejar felicidades. Agora, porém, aprendi – precocemente – que bem-aventurança quer dizer felicidade, e que no seu famoso Sermão da Motanha, Jesus listou oito delas, ali num ponto elevado nas proximidades do Mar da Galileia, revelando para que tipo de pessoas a entrada no Reino dos Céus está garantida. Logo após (Mateus 19:14), contou que esta é uma das prerrogativas dos pequeninos, isto é, as crianças. Sendo assim, e é, estou bem acomodado
Fico pensando em tudo que aconteceu durante minha curta vida, minhas agonias e minha morte. Lembro-me vagamente de um livro que falava de uma carta misteriosa, escrita pelo próprio Deus, endereçada a um pai que tivera a filha de seis anos, Missy, brutalmente assassinada, e a polícia não conseguia encontrar o corpo. Mackenzie Philipps, este pai, forte personagem do livro “A Cabana”, recebe a carta com um convite: dirigir-se a uma cabana numa floresta, exatamente onde tudo tinha acontecido. William Young, o autor do livro, narra então o surpreendente encontro de Deus com o pai. Um best-seller.
Missy, personagem, e eu, também personagem, estamos juntos. Ela, vítima de um psicopata atraído por meninas; eu, espancado até morrer por um homem que sentia prazer ao bater violentamente em crianças. Histórias quase semelhantes.