Radialistas desafiam Bolsonaro a conhecer experiências com dessalinização de água no Ceará

No Ceará os sistemas de dessalinização já operam com energia solar

Os radialistas Claudio Ramos, Dalmo Campos e Marcos Dantas desafiaram o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) a visitar o estado do Ceará para conhecer os sistemas de dessalinização de água instalados e funcionando em vários municípios do interior cearense. O trio, que ancora o polêmico programa 94 News, que vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 06h às 08h, pela rádio 94 FM, de Baturité (CE) – e conta com a participação diária deste redator –, questiona o interesse de Bolsonaro de ir até Israel conhecer a técnica de dessalinização de água.

“Mais uma vez o presidente eleito demonstra desconhecer o Brasil. Aqui, no Ceará, desde o começo da década passada o Estado investe em sistemas de dessalinização de água, instrumentos que se revelaram de importância inquestionável no enfrentamento à seca. Bolsonaro não precisa ir até Israel conhecer essa tecnologia, basta descer do palanque e se dispor a conhecer as experiências exitosas já existentes em nosso país.”, enfatizou Claudio Ramos.

As ações de dessalinização de água no Ceará já estão presentes em vários municípios (veja aqui), sobretudo em comunidades rurais, e teve início com o Programa Água Doce (PAD), do Ministério do Meio Ambiente (MMA), que investe em sistemas de dessalinização para oferecer água com qualidade a populações de baixa renda em comunidades do semiárido. Incrementado durante dos governos Lula, o PAD existe desde o final da década de 90 e atende todo o Nordeste e o norte de Minas Gerais, onde a disponibilidade hídrica é baixa e a salinidade das águas subterrâneas é elevada.

EXPERIÊNCIA EXITOSA

A experiência de dessalinização da água subterrânea no Ceará está presente no Plano Estadual de Segurança Hídrica (veja aqui:) e já é considerada exitosa. Agora o Governo do Estado decidiu investir, também, na dessalinização da água do mar para manter o abastecimento da capital. A meta é atender até 2020 pelo menos 720 mil habitantes de Fortaleza com o tratamento da água do mar.

Sistema de dessalinização de água, cada vez mais comum no Ceará

A capital cearense consome hoje cerca 8 m³ (metros cúbicos) de água por segundo. O projeto da planta de dessalinização deve entregar 1 m³ de água tratada por segundo, o equivalente a 12% do consumo na cidade. Fortaleza conta atualmente com 9 milhões de habitantes e o mar à sua frente oferece a chance de contornar os problemas do clima semiárido.

No final de 2017, uma empresa sul-coreana e outra espanhola foram escolhidas para apresentar propostas de engenharia. Elas devem indicar qual o melhor modelo tecnológico para retirar o sal da água e qual o melhor local para a instalação da usina de dessalinização. O governo deve receber os dois estudos técnicos até maio e o projeto tem um orçamento estimado em cerca de R$ 500 milhões.

O Governo do Ceará quer contratar uma empresa para construir e ficar responsável pela operação, oferecendo como contrapartida a compra de toda a água tratada, que se ligará a um ponto de distribuição da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece). Será estabelecida a tarifa máxima que o governo pretende pagar por cada litro de água dessalinizada e vencerá a licitação a companhia que apresentar a menor tarifa, a ser paga pelo consumidor final.

150 PAÍSES

Usina de dessalinização da água do mar nos Emirados Árabes

O modelo em estudo e discussão para o Ceará já existe em pelo menos 150 países que usam o método de dessalinização para seu abastecimento regular, em especial os de regiões desérticas ou com dificuldades de abastecimento, como os do Oriente Médio e do norte da África. Um dos líderes nessa tecnologia é Israel, onde cerca de 80% da água potável consumida pela população é proveniente do mar. 

Em todo o mundo, são cerca de 300 milhões de pessoas que dependem da água dessalinizada para algumas ou todas as suas necessidades. Os dados são da Associação Internacional de Dessalinização, que indica que já existem mais de 18 mil usinas em todo o mundo capazes de dessalinizar a água do mar. Juntas, elas geram 86,8 milhões de metros cúbicos de água por dia.

VIABILIDADE

A experiência internacional mostra que cada metro cúbico de água dessalinizada custa em média US$ 1 (cerca de R$ 3,31). O valor médio praticado atualmente pela Cagece para o tratamento do metro cúbico de água doce é de R$ 3, segundo a Secretaria de Recursos Hídricos do Ceará. Assim, substituir a água doce pela água do mar não representaria um aumento de custo muito grande nos preços da água tratada.

Plantas de dessalinização de maior porte, como as de Israel, por exemplo, conseguem chegar a US$ 0,60 para cada metro cúbico de água tratada. Se for bem sucedida, pode ser vantajoso expandir a unidade de dessalinização da água do mar – uma segunda unidade de tratamento já está em vista para o futuro.(RM)

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