Flavinho Araújo (PSD) alega que precisou abandonar a campanha por questões de saúde. Partido questionou o gasto do dinheiro repassado pelo Fundo Eleitoral
Candidato que recebeu R$ 150 mil e teve dois votos em Manaus (Composição: Paulo Dutra/CENARIUM)
O candidato a vereador em Manaus (AM) Flavinho Araújo (PSD) foi o que teve o maior gasto do Brasil por cada voto recebido, nas eleições deste ano, entre eleitos e não eleitos. Com apenas dois votos e um custo final da campanha de R$ 128,1 mil, conforme a prestação de contas protocolada na Justiça Eleitoral, a divisão ficou em R$ 64.050,00 por cada voto conquistado.
Levantamento feito pelo Metrópoles, a partir das despesas de campanha e a votação obtida, revela o custo do voto de vereador no Brasil. Entre os eleitos, o maior valor foi de R$ 437,42, do candidato Thiago Borges (PL), de Palmas (TO). Já entre os não eleitos, mas que obtiveram, pelo menos, um voto, o caso de Flavinho desponta na liderança, com uma quantia expressiva.
Em entrevista à reportagem, o manauara explicou que estava com a campanha toda pronta para tomar as ruas, materiais impressos e coordenadores contratados, mas que foi surpreendido por uma questão de saúde, logo no início do pleito, e foi obrigado a abandonar a disputa. Como os compromissos financeiros já haviam sido feitos, o gasto, portanto, foi inevitável.
“Estou com uma anemia muito severa. No início da campanha, tive um sangramento no reto. Tenho todos os exames, consultas, remédios. Fui diagnosticado com anemia, o que me levou a ter dificuldade até de levantar da cama. Quando meu material saiu, eu estava ruim, debilitado, chamei toda a família e disse que não conseguiria levar adiante. Se eu fosse candidato, poderia, numa dessas, desmaiar nas ruas. Infelizmente, a minha campanha não deu”, explica ele.
Posição do partido: “agiu de má-fé”
A situação, no entanto, não terminou de forma tão amigável. Passado o primeiro turno das eleições, os diretórios munipal e estadual do Partido Social Democrático (PSD) emitiu um esclarecimento público sobre o caso. A sigla repassou R$ 150 mil para a candidatura de Flavinho – todo o dinheiro arrecadado por ele na eleição.
Diante da votação mínima, o partido informou que o dinheiro era proveniente do Fundo Especial para Financiamento de Campanhas e que o candidato havia agido “com indiscutível má-fé”, que houve “malversação do dinheiro público” e que adotaria “todas as medidas legais cabíveis para denunciar aos órgãos compententes a atitude antiética e marginal” de Flávio.
A prestação de contas do candidato na Justiça Eleitoral atesta que, dos R$ 150 mil repassados pelo PSD, foram gastos R$ 128,1 mil e sobraram R$ 21,9 mil. Esse montante de resto, segundo Flavinho, foi devolvido ao partido.
“Meu foco era, realmente, disputar a eleição. Se não fosse para ganhar, o partido não teria depositado toda essa confiança em mim. Minha intenção não era jamais pegar esse dinheiro, mas, infelizmente, meu corpo disse não. Não me deram direito de resposta. Quando tentei explicar no grupo do partido – enviei fotos e vídeos do meu tratamento – eles me excluíram do grupo”, alega ele.
Gastos informados
Os dados da prestação de contas apontam que R$ 71,4 mil foram gastos com publicidade por adesivos, R$ 17,5 mil com cessão ou locação de veículos, R$ 11,7 mil com atividades de militância e mobilização de rua, R$ 6 mil com serviços advocatícios e R$ 13 mil com despesas “diversas a especificar”. Flavinho diz que havia contratado 12 coordenadores para atuar na campanha, em diferentes regiões de Manaus.
Essa foi a quarta candidatura dele. Em 2016, ele concorreu como vereador e teve 2.504 votos. Em 2018, candidatou-se a deputado federal e teve 3.595 votos. Da última vez, em 2020, também disputou uma vaga de vereador e teve 2.422 votos. “Nunca tive menos de 2 mil votos nas minhas campanhas. Se eu tivesse, realmente, sido candidato e levado adiante a campanha, minha votação jamais seria essa”, afirma. (Metrópoles)